sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tanti auguri a te :)

Eu tenho um Bruno Marco-Polo, que é meu melhor amigo. O meu Bruno Marco-Polo, encontrei-o numa das fases mais fantásticas da minha vida: em erasmus. O meu Bruno Marco-Polo era o português mistério que o nosso grupo de seis tugas sabia que existia, mas que nunca ninguém tinha visto. E um dia, quando entrei no meu colégio italiano, para mais uma aula com aquela stronza, encontrei a professora dos testes de nível e que gostava muito de mim. Eu também gostava dela. Disse-me "parla molto bene" dois dias depois de ter aterrado naquela terra, ainda o ranho não me tinha sido todo assoado, crescendo à medida do desespero e das lágrimas a desconfio. Aquela professora que eu tinha tanta pena que não fosse minha disse-me, então, se podia ficar mais tempo no fim da aula, porque tinha uma surpresa para mim. E tinha. Um presente. Um presente para a minha vida toda, longa que seja, toda. Falei de ti ao Bruno, o outro português que está em Pavia e que ainda não conhece o vosso grupo. Quer conhecer-te. Eu esperei. E ele apareceu. E trocámos o olhar que havia de nos juntar para sempre. Aquele que lhe permite saber quando estou apaixonada só pela forma como falo ao telefone. Aquele que nos permite dizer "Eu Adoro-te" sem que nenhum deposite na expressão a vontade inteira de dizer eu "Amo-te". Embora seja isso. Também amamos os amigos. Amo-o como se ama um amigo assim. Nessa noite, tardia, alta, lua cheia a compor a luz do Corso Garibaldi, fomos juntos, de bicicleta à mão, para atrasar o tempo, até à Piazza Vitória. Tive de comunicar o meu presente aos outros cinco e em menos de nada estávamos a jogar conversa fora enquanto nos aquecia daqueles seis graus negativos um gelado de chocolate. Formámos um todo que nos compôs naqueles meses. Acredito que se hoje decidíssemos pegar numa mochila e marcar encontro naquela praça, não haveria faltosos. Mas uns vão-se perdendo mais que outros. Eu e o meu Bruno Marco-Polo nunca nos perdemos um do outro. Este meu amigo reclama se não lhe escrevo um postal de natal. E reclama se ele só tiver duas páginas. Este meu amigo faz-me rir, marca encontros e não falta, leva-me ao teatro, acompanha-me se me apetecer dançar de noite numa qualquer rua de Lisboa. Com ele fiz a mais louca viagem ao coração da Umbria. Saímos ao anoitecer de uma sexta feira, largando Pavia para trás, em busca de um fim de semana que nos apartasse do que não ia bem. Era fim de semana de dia de São Valentim e fizemos loucuras à custa disso. Levámos uma pendura para Peruggia, que precisava de um lugar no nosso quarto. Convencemos o dono do Hotel que aquilo era uma relação aberta e o meu Bruno Marco-Polo teve direito a piscadelas de olho ao estilo "Tu é que a sabes levar". Dormi-lhe no colo. Pois foi. E enervei-o, como a qualquer companheiro de viagem, com esta mania de não conseguir dormir sem tomar banho, ainda que se aviste a cama lá pelas cinco da manhã. O meu Bruno Marco-Polo trata-me pelo diminutivo e obrigou-me a subir a Assis (só quem conhece o trajecto da estação ao cimo do monte pode supor o quanto o rapaz é insistente). O meu Bruno Marco-Polo dá-me beijinhos na testa e diz que vai passar. E pergunta-me se eu quero que faça carta de recomendação. Ou se lhe telefona a tentar perceber. E depois se for preciso olha para mim e diz que não, que está só a brincar. Porque é verdade que eu não seria doida se levasse as ameaças a sério. O meu Bruno Marco-Polo rodopia-me se me encontra. Não poderia ser meu mais nada se não meu melhor amigo. Nem meu namorado, nem meu marido. O meu Bruno Marco-Polo é cientista. Dos a sério. Que investiga células coisa e tal no estrangeiro. Publica artigos em revistas tal e coisa e faz teses que merecem o aplauso unânime. Mas eu não gosto do meu Bruno Marco-Polo por isso. Gosto dele porque nunca me deixa sentir perdida da nossa amizade. Gosto dele porque me resgatou em horas más. Gosto dele porque nunca se esquece. Gosto dele porque tem dias em que ele é dos poucos que afirma, assim mesmo por palavras, actos e omissões, que gosta mesmo de mim. E não se cansa. O meu Bruno Marco-Polo é daqueles homens que larga tudo por amor. Largou. Mudou de vida, mudou de país. Só não mudou de amigos. No dia em que um de nós puder dizer "Eu vou casar" ou "Eu vou ter um filho", o outro será certamente dos primeiros a saber. E isto é único. Já não se vê. E eu tive a sorte de poder viver assim. Tive a sorte de o encontrar. Tive a sorte maior de ele me guardar. Para sempre. O meu Bruno Marco-Polo faz hoje anos. Passará o dia entre tubos de ensaio. Mas estará feliz. Porque merece tanto que seria um crime se não acontecesse! Tanti auguri a te! Ti voglio bene!

1 comentário:

  1. Fiquei arrepiada!!!
    Apetece dizer como um dia ouvi de alguém: «És linda... por dentro e por fora!»

    Eu

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